Tudo começou ainda em 1992 quando tivemos contato direto com a realidade de Parauapebas e seu circo político. Estávamos desconectados desta realidade, esta Belindia (Carajás era a Bélgica e Parauapebas a Índia) naquele momento, tinha tudo a ver, quando fomos convidados a ocupar a pasta do Planejamento Municipal.
A situação era muito pior do que hoje. Mas não sei não, talvez fosse a mesma coisa, talvez melhor, dependendo do aspecto que você olhe. Pois bem, o Chico das Cortinas era o novo prefeito e a VALE não queria um retorno de FAISAL. Assim, todos os recursos da mineradora estavam disponibilizados para um bom governo, um recomeço com a aglomeração que havia se estabelecido ao sopé da serra e da usina.
A cidade tinha se emancipado de Marabá e primeiro houve um administrador Chico tal, depois a primeira eleição, ganha pelo médico Faisal. O Chico das Cortinas era a sedimentação política e administrativa da jovem cidade e todos precisavam de seu acerto, mesmo porque não havia mais retorno.
Ao fim do mandato de Chico das Cortinas, elegeu-se Bel Mesquita, numa jogada interessante de Faisal, que controlaria o governo por vários anos, até ser expelido do grupo central. Ele se elege deputado estadual e passa a viver e trabalhar em Belém, em prol de todo o estado. De lá dá grande assistência a Parauapebas, de forma exemplar.
Assim a cidade vai se expandindo, sem planejamento, sem pensar critico, apenas no papel de aposentados da VALE. A receita dos royalties permitem uma serie de extravagâncias e irresponsabilidades, permitindo aos políticos e a população um crescimento fantástico, sem crises, salvo a crise da privatização quando a VALE foi vendida. Naquele momento, os primeiros dois anos da nova empresa, a solicitação do corte de 40% nos contratos, deixou a cidade um pouco parada, mas em seguida, com a entrada de Bradesco, o crescimento sem horizontes retornou.
Nunca faltaram os recursos para o desenvolvimento da cidade. Apenas os políticos que assumiram o governo local eram e foram estúpidos, não pensaram no futuro, alem dos quatro anos de mandato. Não trabalharam com planejamento, não enxergaram a finitude das coisas. Questões básicas como infraestrutura urbana, água, esgoto, energia elétrica, saúde não foram pensadas ainda.
Parauapebas ainda é e será por muitos anos, apenas mais uma cidade do interior pobre do Pará. Nossa riqueza, tão decantada, é apenas “para inglês ver”. O que tem adiantado sermos o município maior exportador do Brasil até agora? Vivemos numa comunidade sem governo, sem direção, sem bancos, sem hospitais, escolas mascaradas. Não temos políticas publicas de inserção do negro, do jovem e adolescente, de combate a violência e controle da corrupção, tanto política quanto policial.
Não há, em mais de 20 anos da cidade, um único leito de UTI neonatal, um único leito de hemodiálise, médicos receitam sem conseqüências, e todos sabem que se adoecer, é melhor sair enquanto pode. Teresina, Goiânia, Belo Horizonte, Araguaia, são destinos certos da falta de confiança na cidade mais rica do interior do Pará. Percebemos cotidianamente o desespero e despreparo da cidade: nas filas intermináveis a frente de quatro, cinco, agencia bancarias. Das exigências absurdas das mesmas para se abrir uma conta, como deposito inicial e o famigerado comprovante de endereço, que a maioria não tem, por todos viverem em condomínios e de aluguel. A declaração de endereço é de próprio punho, não pode haver pressupostos ou suspeição contra o declarante. Há filas nos cartórios, nos postos médicos, nos ricos e caros laboratórios de exames admissionais. Não basta nada, o crescimento é mastodôntico, incontrolável.
Os novos loteamentos não param de crescer. Empresas grandes e poderosas se tornam ainda maiores, com loteamentos extensos, aproveitando-se da falta de preparo ou da corrupção geral, de fazerem loteamentos em áreas de preservação ambiental e sem a responsabilidade de saneamento básico, com, por exemplo, redes de esgoto. São loteamentos lindos, mas sem um cm de esgoto, tudo baseado na fossa comum. Os políticos perderam uma excelente oportunidade de exigir a estas empresas, ao menos um sistema local de esgoto. Apenas estão encarecendo ainda mais, ou mesmo inviabilizando a implantação de uma coleta de esgoto domestico na cidade. E seria viável se exigir uma solução local para o esgoto, vejamos a obra da Wtorre, onde se tem uma solução. E qual será a solução para o esgoto domestico da torre de vinte andares que se esta deixando construir nesta cidade? Carajás tem sua solução local para o esgoto domestico, entendem que há solução possível?
Perguntamos o que é o retrato desta pretensa cidade mais rica do interior do Pará, com crescimento de dois dígitos. As fotos destas crianças e destas localidades respondem per si. Não há futuro, não o que a maioria imagina. Nossos estudos e analises demonstram que a renda media da população são de 1,5 salários mínimos, uma aluguel de dois cômodos chegam a 400,00 reais. Os preços dos alimentos são altos e não param de subir, o transporte urbano caro, desconfortável e grosseiro. A construção de novos bairros, com milhares de barracos de alvenaria não amenizaram ainda a pressão dos alugueis. O que temos de novo é um crescimento perigoso do endividamento das famílias locais, que estão pagando os terrenos, os materiais de construção. Se atrasarem as prestações, perderão tudo, diferentemente do aluguel, que é apenas mudar-se. Se houver uma crise de emprego e renda, terão que desocupar os terrenos, devolvendo-os ao proprietário financiador.
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